quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Formamos Cidadãos. E Chefes. Mas só?

Uma conversa hoje a noite rendeu um papo bem interessante. E um questionamento bacana: Existe algum lugar no Movimento para a pessoa que, após sair do Ramo Pioneiro, não quer atuar numa seção? É polêmico, eu sei.

Particularmente eu sempre defendi, e continuo defendendo, as chamadas "pessoas sem Grupo", os "Registros 00", os do "Lenço da Nacional", chamem como preferir, só não esqueçam que somos todos Escoteiros do Brasil. As vezes essas pessoas fazem muito mais pelo Movimento do que muito IM que se acha dono de Grupo ou de Distrito Escoteiro. 

Partimos do princípio de que o Escotismo não serve para formar nem escotistas, nem dirigentes, mas para formar cidadãos. Ou seja, ao completar 21 anos de idade, um jovem dentro do escotismo cumpriu seu dever. Mas a gente sabe que a carência de adultos é gigantesca, e que existe uma certa "pressão" para que esse jovem de sangue novo logo atue em alguma seção e auxilie o Grupo, oferecendo aos mais jovens tudo que ele aprendeu desde que ele entrou no Grupo seja lá com qual idade foi. É padrão, é o que todo mundo faz, "sempre foi assim". Ou então, a pessoa com 21 anos completa sua formação enquanto jovem e cai fora. Seja porque ou não tem espaço no Grupo para o que gostaria de fazer, ou o que há para fazer não é do seu interesse.

E sejamos muito sinceros, é um Movimento voluntário, onde fazemos uma Promessa voluntária e ninguém é obrigado a participar, mas todo mundo em algum lugar dentro de si está no escotismo, também, para satisfazer suas vontades, desejos e ser feliz com isso. Todos têm um interesse ao participar do Movimento, nem que seja apenas ajudar na cozinha servindo o lanche para os jovens e sentir satisfação pessoal com isso. Para mim este é um exemplo de interesse pessoal dentro do escotismo. Tratando-se de um movimento voluntário, e com tanta tretas como temos, ninguém ficaria em um Grupo apenas por se importar com o próximo 100% do tempo levando na cabeça sábado após sábado. Voltando ao assunto principal.

Imaginem um Grupo com falta de adulto, se esse jovem com 21 anos, ou mais, não for para uma seção, onde ele irá? Como será tratado pelos demais? O que o escotismo tem a oferecer para essa pessoa? O que essa pessoa tem a oferecer para o escotismo? O Movimento Escoteiro é apenas o Grupo Escoteiro?

Particularmente, eu vejo hoje que temos Cursos de Formação, de Chefes. Nos preocupamos apenas em formar escotistas e dirigentes, porém o escotismo é muito maior do que apenas essas duas funções dentro de um Grupo.

Já falei para outras pessoas e sempre digo, meu sonho seria, por exemplo, uma equipe de comunicação escoteira full time para eventos importantes. Porém, isso não é possível, todos temos atribuições junto dos Grupos Escoteiros, Seções, junto dos jovens... Sim, é lá onde o escotismo acontece na prática e na raiz, mas existe toda uma estrutura por trás disso que auxilia que o Grupo desenvolva suas atividades. É a diferença entre Grupo Escoteiro, Organização Escoteira e Movimento Escoteiro. Eu ao menos vejo assim. Aqui no RS, por exemplo, no próximo mês teremos uma atividade regional com 900 lobinhos, e um Mutirão Regional com 450 pessoas, o maior até hoje, precisamos fazer um trabalho muito bom de comunicação. As pessoas não fazem ideia da dificuldade de fazer isso, a começar por montar uma equipe. E tudo isso ao mesmo tempo que se desenrolam as funções no Grupo Escoteiro. E caso a equipe esteja montada, essas pessoas tiveram uma formação tal como existe para escotistas e dirigentes? Eu me propus a fazer isso e, infelizmente, os que deveriam ser os mais interessados não ajudaram no contexto todo. Águas passadas, vida que segue.

A Rede de Jovens é outro exemplo, temos um Núcleo Coordenador, porém as informações não chegam nos Grupos, muitas vezes por falhas de comunicação, interesse, e outras por serem filtradas por escotistas e dirigentes mal intencionados. A Rede, como uma ferramenta de participação juvenil, por si só não deveria existir enquanto Núcleo e Rede, mas ser um processo natural onde o jovem participasse e fosse envolvido, engajado e empoderado dentro da estrutura do Grupo e da Organização. Infelizmente sabemos que isso não acontece, por isso a importância da Rede existir como ainda é hoje. Agora pense se, a pessoa ao ocupar um Cargo na Organização, como o Núcleo, houvesse tempo e, principalmente, formação, para ter tempo de ir aos Grupos, Indabas, organizar eventos, desenvolver projetos que capacitem mais pessoas na temática da Participação Juvenil? Hoje não é possível, as pessoas que se dispõe à essas funções têm seus deveres para com o Grupo e sua seção. Compreensível, mas...

Além dessa crítica de que o único futuro para o adulto dentro do escotismo é ser escotista ou dirigente, penso também que devemos pensar que existem PESSOAS e PESSOAS. Cada uma com seu perfil de atuação e facilidades para desenvolver tarefas A ou B. Talvez o problema mais comum em todos os Grupos Escoteiros e Distritos sejam as pessoas erradas nas funções erradas. Aí o negócio não vai pra frente mesmo! No Congresso Nacional desse ano houve uma oficina que tratou sobre captação de recursos, em resumo falava que temos uma fonte imensurável de recursos dentro do Grupo, as famílias. Porém, não podemos sair por ai como o Maníaco do Lenço, o pai visita o Grupo em um sábado, quatro depois recebe um lenço e é Chefe. A mesma coisa com o Jovem que, ao completar sua etapa de membro juvenil, agora precisa encontrar que caminho seguir no lado verde da força.

Alguns Grupos fazem da opção de estágios de três a seis meses em cada seção, para que descubra qual mais se identifica e fique trabalhando com os jovens ao fim. Outros Grupos com mente mais aberta e evoluída conseguem realizar bons trabalhos intergeracionais em Órgãos Diretivos. Minha opinião, o Movimento Escoteiro é muito maior que apenas essas duas opções. Por isso vim para casa pensando nesse texto e refletindo.

Erramos em trabalhar Formação de Adultos apenas para função de Escotistas e Dirigentes? Acho válida a reflexão, afinal não podemos achar normal que um jovem, ao sair do Ramo Pioneiro,  ou qualquer novo adulto que tenha interesse em entrar no Movimento - independente da idade - não o consiga por não se encaixar nesse futuro pré-determinado que já tornamos "tradicional" dentro do escotismo.